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Abstract(s)
Este trabalho destina-se Ć s provas para obtenĆ§Ć£o do Estatuto de Especialista na Escola Superior de MĆŗsica, Artes e EspectĆ”culo do Instituto PolitĆ©cnico do Porto. Com ele pretendo abordar a mĆŗsica portuguesa para clarinete e electrĆ³nica, com a qual gravei o meu Ćŗltimo disco que acaba de ser editado pela Miso Records. O propĆ³sito nĆ£o Ć© falar apenas sobre o disco em si mas, sobretudo, da mĆŗsica que lhe dĆ” corpo. Descrever um pouco esta mĆŗsica, que envolve um instrumento com 300 anos, que Ć© o clarinete, e uma tecnologia que evolui todos os dias, centrado nos seus aspectos performativos. Este disco acabou por ser uma consequĆŖncia de um processo que Ć©, fundamentalmente, de performance e de tudo o que a precede e envolve. Ć isso que tentarei explorar aqui.
HĆ” mais de 10 anos que tinha o objectivo de explorar, enquanto intĆ©rprete, o repertĆ³rio para clarinete solo e electrĆ³nica. No entanto, esse desejo foi sendo sucessivamente adiado por diversas razƵes que se prendem fundamentalmente com a especificidade de um projeto desta natureza e com as necessidades de vĆ”ria ordem que exige.
As condiƧƵes para a realizaĆ§Ć£o desse projeto pessoal comeƧaram a criar-se em 2007, com o aparecimento do SondāAr-te Electric Ensemble e com a minha integraĆ§Ć£o nesse grupo. Sendo um agrupamento criado no seio da Miso Music Portugal com o propĆ³sito de fazer fundamentalmente mĆŗsica mista, estava encontrado o parceiro ideal para que pudesse fazer mĆŗsica para clarinete e electrĆ³nica com regularidade. Por se tratar de uma instituiĆ§Ć£o que privilegia sobretudo a criaĆ§Ć£o e divulgaĆ§Ć£o da mĆŗsica e dos mĆŗsicos portugueses, o repertĆ³rio a trabalhar comeƧou por ser, naturalmente, o de compositores portugueses que jĆ” tivessem obras ou que estivessem a compor para clarinete e electrĆ³nica.
Com a realizaĆ§Ć£o de vĆ”rios concertos, bem como a estreia e rodagem de algumas obras, em 2009 decidimos fazer a gravaĆ§Ć£o de 6 dessas obras para posterior ediĆ§Ć£o em disco. Essa gravaĆ§Ć£o, realizada em Dezembro de 2009, acaba de ser editado pela Miso Records e sĆ£o essas obras que decidi explorar neste trabalho.
Escolhi este repertĆ³rio por vĆ”rias razƵes, sendo as mais importantes o conhecimento das obras e da sua histĆ³ria enquanto intĆ©rprete, tendo mesmo estado envolvido em algumas delas desde o seu inĆcio, e a proximidade pessoal e musical que mantenho com os compositores. Para este trabalho procurei fazer uma resenha da histĆ³ria das obras e explorar dois aspectos que me parecem pertinentes neste tipo de repertĆ³rio: por um lado, a relaĆ§Ć£o que Ć© absolutamente necessĆ”ria entre intĆ©rprete e compositor para a criaĆ§Ć£o desta mĆŗsica e por outro, um novo paradigma que surge, naturalmente, da relaĆ§Ć£o dos compositores com o pĆŗblico, pelo seu envolvimento direto com o som que Ć© produzido. Para isso, para alĆ©m da experiĆŖncia pessoal, contei com o envolvimento dos compositores na resposta a um questionĆ”rio que lhes enviei.
Esse questionĆ”rio foi elaborado com o objectivo de explorar dois aspectos: as diferenƧas entre a electrĆ³nica em tempo real e em tempo diferido e tambĆ©m o do papel dos intĆ©rpretes na motivaĆ§Ć£o para a composiĆ§Ć£o e como catalisadores e fontes de informaĆ§Ć£o tĆ©cnica para o trabalho dos compositores.
ComeƧarei por abordar a mĆŗsica mista, na sua envolvente performativa. Antes de mais, importa delimitar conceitos e compreender o que Ć© este tipo de mĆŗsica. Poderemos, neste caso concreto, considerar a mĆŗsica que foi, e continua a ser, composta para clarinete e electrĆ³nica. No entanto, entendo por mĆŗsica mista toda a mĆŗsica que relaciona a electrĆ³nica com instrumentos ditos acĆŗsticos. Embora reconhecendo que esta Ć© uma forma um pouco ambĆgua de definir o conceito, serĆ” porventura a que se explicarĆ” por poucas palavras e de uma forma simples. Digo ambĆgua porque se considerarmos que a mĆŗsica electrĆ³nica, para ser escutada, tem de passar por processos acĆŗsticos de difusĆ£o, terĆamos aqui um problema para definir o que Ć© e o que nĆ£o Ć© acĆŗstico. Consideremos entĆ£o os instrumentos tradicionais, sem qualquer processo elĆ©ctrico ou electrĆ³nico na sua origem sonora, como acĆŗsticos, ainda que para efeitos de difusĆ£o conjunta com a electrĆ³nica sejam, em muitos casos, amplificados e/ou equalizados de forma a poder obter-se uma interpretaĆ§Ć£o coesa e optimizar-se uma sonoridade conjunta.
Neste caso, que Ć© o da mĆŗsica mista para clarinete de compositores portugueses, comeƧaria por abordar os aspectos performativos dividindo-os em duas classes importantes que se prendem com a forma como a electrĆ³nica Ć© apresentada: em tempo real ou em tempo diferido. Se a mĆŗsica com electrĆ³nica em tempo real depende do sinal emitido pelo instrumento, e a partir daĆ a electrĆ³nica Ć© processada e gerada atravĆ©s de programas como Max/MSP, o mais utilizado hoje em dia, a mĆŗsica electrĆ³nica em tempo diferido estĆ” toda predefinida Ć partida e Ć© apresentada em suporte fĆsico, sob a forma de um ou vĆ”rios ficheiros Ć”udio que sĆ£o difundidos ao longo da performance. HĆ” tambĆ©m quem utilize os dois processos de forma concorrente e complementar na mesma obra.
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Instituto PolitĆ©cnico do Porto. Escola Superior de MĆŗsica e das Artes do EspectĆ”culo.