Name: | Description: | Size: | Format: | |
---|---|---|---|---|
349.47 KB | Adobe PDF |
Authors
Advisor(s)
Abstract(s)
A AutodeterminaĆ§Ć£o Ć© considerada por alguns autores como um conjunto de
atitudes que possibilitam que cada pessoa defina metas e seja capaz de, por
iniciativa prĆ³pria, alcanƧar os seus objectivos (Field & Hoffman, 1996;
Poulsen, Rodger, & Ziviani, 2006; Wehmeyer, 1998, 2007; Wehmeyer &
Metzler, 1995). No Ć¢mbito deste conceito Ć© extremamente relevante
identificar no indivĆduo aspetos importantes, designadamente a
autorrealizaĆ§Ć£o que permite alcanƧar todo o potencial, a assertividade para
dizer de forma direta e clara quais as suas necessidades, a criatividade como
apoio para ultrapassar os papƩis estereotipados e expectativas, a crenƧa
para reconhecer as suas capacidades e contribuiĆ§Ć£o para a sociedade e a
autorrepresentaĆ§Ć£o para garantir a viabilizaĆ§Ć£o dos serviƧos e concretizaĆ§Ć£o
de todo o potencial (Field & Hoffman, 1996).
Nesta lĆ³gica surge um outro conceito que tambĆ©m assume grande
importĆ¢ncia: o self-advocacy (autorrepresentaĆ§Ć£o) (Santos & Morato, 2002).
Brinckerhoff (1993) definiu a autorrepresentaĆ§Ć£o como a habilidade para
reconhecer e responder Ć s necessidades especĆficas de uma dificuldade de
aprendizagem, sem comprometer a dignidade de si mesmo e dos outros.
Para Wehmeyer e Metzler (1995) a AutodeterminaĆ§Ć£o num indivĆduo, nĆ£o Ć©
suscetĆvel de ser diretamente avaliada, podendo apenas ser observada
atravĆ©s das aƧƵes e comportamentos do prĆ³prio. Mediante a avaliaĆ§Ć£o
desses mesmos comportamentos podemos verificar se a pessoa
desenvolveu competĆŖncias para autodeterminar o seu projeto de vida.
Estudos realizados com base na AutodeterminaĆ§Ć£o da pessoa com
deficiĆŖncia mental (DM) (Houghton, Bronicki, & Guess, 1987; Kishi,
Teelucksingh, Zollers, Park-Lee, & Meyer, 1988; Murtaugh & Zetlin, 1990),
concluem que a populaĆ§Ć£o jovem adulta com DM nĆ£o vivencia uma grande
panĆ³plia de experiĆŖncias em que lhe seja proporcionada oportunidade de
expressar preferĆŖncias, fazer escolhas e tomar decisƵes (Wehmeyer &
Metzler, 1995).
Mesmo quando se vislumbra um novo paradigma face Ć DM em que se
percebe a importĆ¢ncia deste conceito (AutodeterminaĆ§Ć£o) como fundamental para a realizaĆ§Ć£o pessoal desta populaĆ§Ć£o, nem sempre existe uma resposta
coerente por parte da sociedade, pois uma grande parte mantĆŖm-se
obstinada e resistente, ignorando a idade cronolĆ³gica dos indivĆduos e
focando-se na sua suposta idade mental, o que leva por vezes a interaƧƵes
enviesadas e inadequadas. Nesta lĆ³gica, Ć© Ć³bvio, que se Ć© tratada como uma
crianƧa, irƔ de certeza assumir comportamentos como tal (Glat, 1999).
Jovens com competĆŖncias de AutodeterminaĆ§Ć£o possuem maiores
possibilidades de obter sucesso na transiĆ§Ć£o para a vida adulta onde se inclui
o emprego e a vida social (Agran & Wehmeyer, 2000).
Constata-se que os jovens com DM podem enfrentar obstƔculos que
aparentemente lhes pareƧam difĆceis ou mesmo impossĆveis de transpor,
podendo apenas necessitar de apoio e intervenƧƵes especĆficas para os
auxiliarem com as transiƧƵes de papƩis que experienciam. Estas transiƧƵes
de papĆ©is sĆ£o vividas de forma diferente de indivĆduo para indivĆduo e
dependem do desenvolvimento de cada jovem, das suas capacidades e
dificuldades e da existĆŖncia de suporte familiar e ambiental (King, Baldwin,
Currie, & Evans, 2005). Para que a transiĆ§Ć£o de papĆ©is possa ser vivida de
forma harmoniosa e tendo em conta uma perspetiva de inclusĆ£o, a maioria
das crianƧas e jovens com deficiĆŖncia tĆŖm sido integradas no ensino regular
e, nesse sentido, Ʃ de todo importante realƧar a necessidade de apoio que
permita uma participaĆ§Ć£o efetiva dos mesmos no contexto escolar,
orientando as suas atividades e integrando-as da forma mais completa
possĆvel (Loukas, 2007; Mu, Gabriel Franck, & Konz, 2007).
A literatura aponta para um papel fundamental da Terapia Ocupacional no
que diz respeito Ć escola inclusiva, cujo objetivo se foca em facilitar o
envolvimento ativo dos jovens, tendo em conta que estes experimentam as
mudanƧas inerentes Ć adolescĆŖncia que associadas ao processo de
transiĆ§Ć£o resultam num percurso difĆcil, principalmente para jovens com
deficiĆŖncia (Loukas, 2007; Michaels & Orentlicher, 2004; J. Spencer, Emery,
& Schneck, 2003).
A Terapia Ocupacional assume um papel importante em todo o processo de
envolvimento e na intervenĆ§Ć£o nas escolas, apoiando a transiĆ§Ć£o e
potenciando o desenvolvimento de competĆŖncias de desempenho (fĆsicas, cognitivas, emocionais e sociais), a adaptaĆ§Ć£o de contextos e a participaĆ§Ć£o
efetiva da crianƧa ou jovem nas atividades educativas e na vida na
comunidade (Conaboy et al., 2008b; Mu et al., 2007; K. C. Spencer &
O'Daniel, 2005). Ć relevante o desenvolvimento e manutenĆ§Ć£o de hĆ”bitos e
rotinas adequadas de forma a alcanƧar o sucesso escolar e a aprendizagem
de estratƩgias para a vida na comunidade, bem como conseguir que o
indivĆduo seja capaz de autodeterminar os seus projetos de vida para uma
participaĆ§Ć£o efetiva (Chambers et al., 2007; Conaboy et al., 2008a, 2008b;
Poulsen et al., 2006).
RealƧa-se que a AutodeterminaĆ§Ć£o tem por base componentes como a
autonomia comportamental, na qual o indivĆduo vai-se desenvolvendo no
sentido da autoproteĆ§Ć£o e auto-orientaĆ§Ć£o; o Empowerment PsicolĆ³gico, em
que se parte para a aĆ§Ć£o convicto de que se Ć© capaz de aplicar as
competĆŖncias que sĆ£o exigidas para alcanƧar os resultados desejados; o
autocontrolo e a autorrealizaĆ§Ć£o (Wehmeyer, 1998).
Promover a AutodeterminaĆ§Ć£o Ć©, sem dĆŗvida, um aspeto crucial dos projetos
educativos dos alunos com DM (Agran & Wehmeyer, 2000; Black & Ornelles,
2001; Mancini & Coster, 2004; Wehmeyer, 1998; Wehmeyer & Schwartz,
1998), onde se enfatizam as competĆŖncias e a preparaĆ§Ć£o para o emprego e
para uma vida o mais independente possĆvel (Conaboy et al., 2008a, 2008b).
Em Portugal, na legislaĆ§Ć£o, vigora que as escolas que comportam o
funcionamento do Ensino Especial devem contemplar os projetos educativos,
visto que estes assumem importĆ¢ncia tanto para os alunos integrados que
deles beneficiam, como para toda a comunidade educativa. Deve-se
documentar a avaliaĆ§Ć£o dos alunos e as respostas educativas especĆficas
para cada caso, promovendo a aprendizagem, a capacitaĆ§Ć£o e a aquisiĆ§Ć£o
de competĆŖncias para a inserĆ§Ć£o comunitĆ”ria (por exemplo a nĆvel laboral),
tendo em conta o projeto de vida do aluno em questĆ£o (Chambers et al.,
2007; Michaels & Orentlicher, 2004; Williams-Diehm & Lynch, 2007).
O envolvimento da crianƧa ou jovem e da sua famĆlia como membros da
equipa em todo o processo de transiĆ§Ć£o Ć© um aspeto valioso (Wehmeyer,
1998; Wehmeyer & Schwartz, 1998).De forma a compreender a vantagem da AutodeterminaĆ§Ć£o para o sucesso
destes alunos, em contexto escolar e na vida adulta, Ć© pertinente referir os
Programas Individuais de TransiĆ§Ć£o (PIT) (Fingles, Hinkle, & Van Horn,
2004). Estes surgem da necessidade de incluir as pessoas com deficiĆŖncia,
visando a mĆ”xima independĆŖncia, o envolvimento a nĆvel comunitĆ”rio e a
manutenĆ§Ć£o e criaĆ§Ć£o de relaƧƵes pessoais e sociais (Black & Ornelles,
2001; Fingles et al., 2004; Sitlington, 1996; Wehmeyer, Garner, Yeager, &
Lawrence, 2006).
Aos PIT estĆ” fortemente aliada a AutodeterminaĆ§Ć£o para promover a
participaĆ§Ć£o dos jovens em todo o processo. Alguns estudos revelam que
jovens mais autodeterminados colaboram continuamente nas reuniƵes de
planeamento e fundamentam as questƵes que sĆ£o do seu interesse
(Sitlington, 1996).
Neste momento, permanece ainda incerto atĆ© que ponto a inclusĆ£o escolar
dos jovens com Necessidades Educativas Especiais (NEE) em Portugal se
encontra a promover a sua AutodeterminaĆ§Ć£o. De facto, sĆ£o poucos os
estudos que indicam atĆ© que ponto os PITās estĆ£o concebidos para o
estabelecimento de uma AutodeterminaĆ§Ć£o elevada nestes jovens. Foi nesse
sentido que realizamos um estudo de desenho observacional descritivo, com
os objetivos de analisar o nĆvel de AutodeterminaĆ§Ć£o de jovens que
frequentam o 2Āŗ e 3Āŗ ciclos do ensino bĆ”sico e secundĆ”rio sinalizados como
tendo NEE e de comparar os nĆveis de AutodeterminaĆ§Ć£o entre um grupo de
jovens com NEE e um grupo de jovens sem NEE.
Description
Keywords
Citation
Publisher
Instituto PolitĆ©cnico do Porto. Escola Superior de Tecnologia da SaĆŗde do Porto